terça-feira, 20 de abril de 2010

Eu e a Cabovisão



Então foi assim:
Como no Natal ganhei de presente do meu amor fofo uma Tv digital, daquelas Lcd, grande e linda de morrer, achei que deveria pôr canais digitais e HD, para ver tudo assim lindamente e tudo e tudo.
Como sou cliente antiga da Cabovisão, pagava um balúrdio apenas por ter tv e internet, já que eles querem é angariar clientes novos, fazem-lhes preços que são uma pechincha e a malta antiga que se lixe e pague uma nota preta.
Como já devem ter percebido, isto de tecnologias para mim, é tipo falar mandarim, acho giro e tal, ah pode-se ter uma boxe e gravar programas? Que giro!...mas fico-me por aí. E fico-me muito bem.
Bem convencida pelo meu homem e farta de ser esmifrada pelos tipos da cabovisão, lá me dirigi a uma das lojas deles. Fui com medo, mas fui. Até me arranjei melhor e tudo, tal não era a nervoseira.
Fui simpáticamente atendida por uma rapariga, que me disse logo o contrário do que me tinham dito por telefone…mudar o contrato para o nome de outra pessoa que viva lá em casa e reduzir drásticamente o preço da mensalidade, não senhora, que era ilegal, nem pensar…fiquei um bocadinho confusa e comecei logo a transpirar, mas foi isso que me disseram pelo telefone, não fui eu que inventei essa imoralidade, disse eu com voz assim sumida…
Nah nah! Então a a rapariga, simpática, que era, arranjou-me ali uma solução, que fica entre o preço exorbitante que eu pagava e o preço de amigo para os novos clientes, uma coisinha intermédia, que ainda poupa uns bons euros por mês e inclui a dita cuja box, a que grava, aquela milagrosa, telefone com muitos minutos de conversa de borla e a internet. Achei a ideia boa, ao fim de um ano poupa-se muito dinheiro e pimba, lá assinei a papelada.

Eu sabia que estava para vir o mais difícil, que é a parte dos rapazes irem lá a casa instalar as coisas. Mas respirei fundo e esperei. Eles lá apareceram, atrasadissimos, como é costume, mas uma pessoa é tolerante, vá lá, nem 8 nem 80…
Escusado será dizer que estes moços a mim parecem-me todos iguais. Despenteados e com as cuecas a aparecer quando se baixam. O cheiro também não é dos melhores, mas pronto, as pessoas estão a trabalhar em esforço, dá-se o desconto…vá lá.
O local onde iria ficar o telefone foi logo o primeiro problema. Porque tinham que ter uma ficha e mais não sei o quê, que não dava para ficar onde estava, praticamente tinham que me passar fios pela sala toda, colados à parede, eu detesto fios, tenho pavor a ver fios, ai a minha vida…depois de eu, sempre educadamente, claro, dizer que assim não dava, que assim não queria, teria que haver uma solução e coisa e tal, o senhor mais velho e com mais bom senso, lá arranjou um local mais aprazível, onde a passagem de fios é mínima e o telefone não fica mal. Ufaaaaaaaaaaaa, respirei fundo.
O pior foi para ele ligar a pistola de silicone, aquela onde se mete o silicone sólido e ele sai liquidozinho, pronto a usar. Aquela pistola tinha mais de cem anos-cem! Nunca tinha visto coisa mais velha, toda a desfazer-se, e de cada vez que era ligada à corrente, pufff, o quadro eléctrico disparava e ficávamos sem luz. E eles, com cara de parvos, ahh, olha a luz foi-se, olhavam um para o outro, olhares vazios…e eu, com voz sumida…não teria sido de ligar a pistola? Ahhhhhh, pois foi, olha que chatice. E eu lá respirava fundo, bebia uma águinha, podia ser pior.
Depois da televisão e box e tudo isso instalado, explicou-me assim de raspão o funcionamento da coisa. Na altura até achei fácil e é, mas quando me atrevi a perguntar o modo de pôr aquilo a gravar, levei com um vá ver ao livro que é mais fácil do que explicar, e será, entendo que não possam explicar tudo detalhadamente a toda a gente, pronto, com tempo e paciência eu chego lá.
Ora, os senhores eram dois e só tenho falado num deles, onde estava o outro desde que chegou aqui a casa, onde? Refasteladamente sentado numa cadeira da casa de jantar, mal chegou, nem uma dúvida se se devia ou podia sentar, ora vamos lá masé descansar que o dia tem sido duro, deve ter pensado. E ali se manteve o tempo todo, a bocejar, a esfregar os olhos, a falar ao telemóvel, e a bocejar e a falar ao telemóvel e a esfregar os olhos e bocejar. Esse querido pediu-me o computador,a parte da informática era com ele, só para ver ali uma coisa, aquilo era automático, ele não tinha que fazer nada, nem se levantou, o computador é portátil, venha-mo cá trazer que estou cansado, pensou para os seus botões.
Não havia internet. Começou ali o grande drama. Tentativas e mais tentativas e nada. E ligava cabos e desligava, e nada. E deve ser o computador que ainda não assumiu não sei o quê, e eu a olhar, à espera, amedrontada. E nada de nada, net não havia. Houve ali uma hora de bocejos e esfreganço dos olhos e o computador, nem um soluço. Porque o router não era da cabovisão e ele assim não se entendia e mais não sei o quê… Ora, como o meu gajo percebe de ligações e essas coisas do demo, eu já levemente irritada, disse-lhe que seria boa ideia ligar-lhe e falarem, talvez ajudasse. Boa ideia. Lá falaram, o quê, não sei. Mas sei que lhe foi explicado tim tim por tim tim tudo o que fazer. De nada adiantou. Até que me disse,com voz sonolenta diga-me lá a senha do router, nem se faz favor, nem nada, ao que eu lhe respondi, dizer não digo, mas posso escrevê-la. E ele, ah pois, isso! Pois amigo, as senhas não se dizem a estranhos, para isso é que são senhas e são confidênciais, boa? E escrevia-a, muitas vezes. E continuavam os bocejos e os olhos quase fechados, até que eu lhe disse que tinha realmente pena de não ter café em casa, senão ia-lhe fazer um, porque o senhor estava nitidamente a morrer de sono. Como nem ele nem eu percebemos se eu estava a brincar ou se estava já irritada com aquilo, ele apenas sorriu e disse, meio a dormir, ora deixe lá… não se chateie. E a saga da internet contínuou por mais uma hora, é que se fosse um router da cabovisão tudo bem, agora assim, não conseguia, não era competência dele e eu, que ninguém me tinha dito que era necessário ter um router da cabovisão, que expliquei à rapariga simpática que o router era meu e ela não objectou nada e ficámos naquilo…e ele que não e que não, e eu que sim e que sim, se vêm fazer um serviço que o façam correctamente e daquilo não saíamos. Até que desisti. Tinham sido quase 3 horas naquilo, tinha mais que fazer, liguem lá um cabo que prefiro ficar sem wireless, depois arranjo quem me faça isso ( o meu gajo, claro), já que vocês são uns incompetentes. O senhor mais velho foi logo ao carro buscar um cabo, enquanto o doce rapaz da mosca tsé-tsé me disse que ia fazer a última tentativa, tipo, esta estúpida pôs a minha honra em causa, agora vou-me empenhar ao máximo. Lá rabiscou uns números num papel, seguiu pela milésima vez os passos que o meu homem lhe tinha indicado, escreveu os números no computador e …voilá!! Já tinha wireless!! Alegria das alegrias, o rapaz até parou de bocejar e sorriu. Eu quase que me esqueci das figuras que ele fez a tarde toda. E lá foram os dois, pelas escadas que o elevador é lento, sumiram-se. E assim acabou. Cabovisão, é sempre a mesma coisa, não é? Nunca aprendem, estes grandes queridos...

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