sábado, 8 de maio de 2010

O casamento

Hoje conto-vos uma coisa à qual, passados quase 20 anos, acho um piadão. Quando me lembro, parto-me a rir, de tão ridículo e aparvalhado que foi. Na altura não reparei, mas a idade e vivência, ajudam-nos nestas coisas. Penso que ninguém se vai aborrecer, nem ficar embaraçado, por isso falo-vos agora, do meu casamento. E foi assim:
Eu ia casar em Maio, não me lembro o dia, mas penso que era 23. Tinha tudo tratado já, ia ser um casamento com pouca gente, porque o meu pai tinha morrido poucos anos antes, mas ía ser na York House, apenas para familiares e 3 ou 4 amigos. Uma coisa cosy, mas gira. Ora, o meu namorado tratou de ter um acidente de carro muito grave, no dia 13. Brinco e digo que foi Nossa Senhora que assim quis. Estava eu a treinar penteados na cabeleireira, quando me telefonaram do hospital, a avisar. Lá vou eu, a minha mãe e uma amiga, em pânico, ver como estava o homem. E estava realmente muito partido. Depois de muitos dias de internamento e uma operação ao fémur pelo meio, lá veio para casa. Como na altura o dinheiro não abundava, e se não casassemos até 5 de Junho, os papeis caducavam e tínhamos que renovar tudo e voltar a gastar um dinheirão, decidimos casar no dia 5 de Junho.
Nesse dia e como já vivíamos juntos, ele acordou e disse-me " não me apetece levantar, doi-me tudo e vou ficar deitado". Caiu-me tudo! Às 10h30 da manhã estariam lá as senhoras do registo civil...A custo e depois de muitos pedidos e choradeira, lá se dignou levantar e vestir-se. Como ele ainda não tinha comprado fato para o casamento...levou um do meu pai. Por sorte até lhe ficava bem, tinham mais ou menos a mesma altura e peso, o pior era que ele estava cheio de cicatrizes num olho, na boca e andava de muletas. O primeiro ataque de riso, foi quando as senhoras do registo chegaram. Ao contrário da minha mãe, que chorava, por me estar a casar com um traste, pela ausência do meu pai e por ver a única filha metida naquela confusão toda, eu só me ria. Chorava a rir. As senhoras pediam atenção e calma, mas quais quê, eu desfazia-me a rir. De tal forma, que ele também começou a rir-se e elas ameaçaram não nos casarem. Lá acalmá-mos um pouco, até que, chegam os meus sogros. Como não convidámos ninguém, apenas lhes tínhamos telefonado na véspera a dizer que contávamos com eles, mas como não chegavam, decidimos casar, mesmo sem eles.
Tinham vindo da periferia de Lisboa...de autocarro! A minha sogra tinha caído e esfolado a perna toda e vinha toda coxa. Bom, aí, até as senhoras do registo civíl se riram, tal não era a confusão. A custo lá disseram o que tinham a dizer, dissemos o "sim" e foram-se embora, não sem antes dizerem que nunca tinham feito um casamento assim, com uma noiva perdida de riso, convidados a chegarem todos estropiados e tudo com a cabeça na lua.
Seguiu-se o almoço. Só na altura nos lembrámos do almoço! Não contávamos que tivessem aparecido umas primas, mais uma amiga, mais os sogros...toca de ir comprar...frangos assados! E já agora um bolo, pois casamento sem bolo, não é casamento. Lá nos sentámos a almoçar. Foi quando eu comecei a pensar, a rever tudo o que se tinha passado, a comermos frangos assados, um bolinho de ananás, a sogra coxa, o marido escavacado, com um fato do meu pai, era aquilo o meu casamento...Tive o maior ataque de riso da minha vida, juro. Mas era riso e choro também. Pelas coisas serem assim, pelo meu pai ter morrido, pela depressão da minha mãe, pela cena ridícula que estávamos todos a viver. Tive que beber água com açúcar para me acalmar, íam-me dando 3 coisinhas más. Para finalizar, almoçámos, os sogros foram para casa, as primas também, a mãe ficou a lavar a loiça e eu fui dormir uma sesta, enquanto o marido lia a "Bola". A lua de mel foi passada na fisioterapia. E digo-vos, já me aconteceu de tudo, coisas boas e más, umas dramáticas outras divertidas, mas nenhuma tão non sense, nem tão cómica e ridícula como esta.
A parte boa é que já ultrapassei. O casamento e o abençoado, esse sim, divórcio. E quero voltar a casar-me, desta vez, a sério, com tudo a que tenho direito. Boa?

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