terça-feira, 1 de junho de 2010

A minha mãe e o meu pai eram completamente apaixonados um pelo outro. Durante os 25 que estiveram casados nem tudo foram rosas, obviamente, mas essa paixão, esse amor imenso nunca esmoreceu. Vi-os muitas vezes aborrecidos, zangados um com o outro, mas nunca por um momento vi apagar-se dos seus olhos aquela paixão avassaladora que os consumia. Depois o meu pai, sem aviso prévio, teve um enfarte e morreu. A minha mãe tinha 50 anos, era ainda uma mulher lindíssima e cheia de vida. Mas parte dela, sei que morreu com ele. A outra parte vive diariamente com uma saudade enorme, a toda a hora, algo que nunca vi em ninguém, em mais nenhuma viuva, algo que a consome dia a dia, algo a que ela já se habituou, mas que lhe dói em doses inquantificaveis. E para os olhos dela brilharem, basta recordar momentos vividos com ele, penso que que é também disso que vive, de memórias, são elas que lhe adoçam os dias. Já vi muitos amores, muitas paixões, mas nada que se pareça com o que os meus pais tinham. E tenho nisso o maior dos orgulhos, a maior das vaidades, é isso que também suaviza a dor destes 20 anos de ausência.

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