segunda-feira, 21 de junho de 2010

Solidão

Uma ideia que me vem muito à cabeça últimanente, não sei porquê, é que não tenho amigos. Nenhuns.
Não sou pessoa de fazer amizades com enorme facilidade, mas basta ter um pouco de confiança e sou amiga para a vida. A amizade é o sentimento ao qual dou mais valor, é o único que mesmo que esmoreça, não morre.
Naturalmente fiz imensos amigos ao longo da vida, até porque vivi em 7 cidades diferentes. Nasci no alentejo, mas cedo saí de lá e comecei a andar de terra em terra, por causa da profissão do meu pai. Vivi no alentejo, no ribatejo, em Lisboa, no centro, voltei ao alentejo, saí, voltei ao centro, enfim, passei a vida a mudar de casa, de escola, de amigos.
Para ser sincera, nunca me custou nada. Era uma emoção, talvez até se tenha tornado num hábito, ir para um sítio novo, começar do zero, conhecer pessoas novas, ir para uma escola nova, fazer novos amigos, ter novas paixões, sempre me pareceu uma coisa fantástica. Era uma lufada de ar fresco. E foi. Fiz centenas de amigos, vivi coisas giríssimas, foi uma vida intensa. Até que um dia, já há muitos anos sem o meu pai, resolvi assentar. Vim para a terra onde cresci, onde me fiz mulherzinha e aqui moro há 10 anos.
E os amigos, esses, ficaram pelo caminho. Ao princípio, quando saía duma terra, ainda mantinha por algum tempo o contacto com alguns amigos, os que eram mais importantes, mais chegados. Telefonávamos, escrevíamos. Não haviam ainda telemóveis e quase ninguém tinha computador. Lembro-me da Manela, de Santarém, do Pedro, de muitos outros que esqueci o nome. Em Lisboa na faculdade passei o melhor tempo da vida, o Rui, a Elsa e a Tânia formavam comigo um quarteto inseparável e imbatível. Fomos muito felizes, vivemos dias e noites memoráveis. Hoje em dia encontro-os no facebook, lembram-se de mim, mas têm as suas vidas. Tal como os amigos e colegas que ficaram cá, muitos anos depois, regressada, constatei que já não fazia parte das amizades deles, cresceram, formaram família, tiveram filhos, fizeram novos amigos. Eu sou apenas a “conhecida”, que um dia se foi embora. A quem se cumprimenta, mas com quem já não se tem afiinidade.
De vez em quando penso nisso, penso que se a minha mãe morre, se o meu casamento acaba, se tenho alguma doença cruél, não tenho braços que me abracem, vozes que escutem o meu choro, palavras de conforto. É no meu namorado que condenso todos os amigos, é ele que escuta as minha alegrias e as minha penas, é quase só com ele que falo. É ele o meu melhor amigo, além de ser o meu amor. E embora me saiba muito bem termos uma relação tão próxima, assusta-me que um dia ele vá embora e eu fique completamente sózinha. Procuro não pensar muito nisso, mas assusta. Se fosse hoje, por mais excitante que fosse andar de terra em terra, eu e os meus pais, teríamos de certeza feito outras opções. Ou talvez não.

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