domingo, 5 de setembro de 2010

A morte e a vida

Claro que alguns dirão logo que isto é algo sobre o qual não se deve escrever, que dá mau agoiro, que é mórbido, que falar dela atrai-a, que dá má sorte, mas para mim falar de morte é tão natural e normal como falar de yogurtes ou de batons. Apesar de não desejar morrer, gosto de viver, das pessoas que amo, tenho ainda  vontade de viver tanto, sei que a morte é certa, certinha e não me incomoda absolutamente nada falar sobre ela, pois é uma coisa natural. Nascemos, vivemos e morremos quando tiver que ser e quanto a isso nada podemos fazer ou mudar. Tudo isto porque me lembrei que poderei não estar em casa quando morrer, mas desde que esteja rodeada pelas pessoas que amo, está tudo bem. Imaginei eu nas Maldivas e trunglas dá-me uma cosinha má...não via a minha mãe, não via o meu amor, ia-me assim sem me despedir e isso incomoda-me um cadito. Há uns anos, tinha eu 19, estive muito mal e viram a coisa tão má que avisaram a família que daquela noite não passava. Eu não sabia deste pormenor, mas sentia-me tão mal que achei que iria naturalmente morrer. E pedi para me despedir dos meus pais. Pedi insistentemente. Porque sabendo que ia desta para melhor, queria realmente despedir-me deles, pedir-lhes desculpa de pifar tão cedo, de certa forma isso tranquilizava-me imenso. Não chamaram os meus pais nem eu morri, mas passei por isso e sei que é importante a presença dos que amamos. De certa forma também perdi o medo, morrer era tão fácil, bastava deixar-me ir...mas eu lutei, lutei muito. E a minha hora ainda não tinha chegado, pois. O sofrimento assusta-me, a morte não. E não é por falar nela que sinto que a atraio, ela virá quando tiver que ser. Falando ou não, ela um dia vem. O importante é viver cada segundo da vida, estar com quem amamos, sermos e fazermos os outros felizes, nem que seja só uma vez por dia. E sorrirmos muito, sentirmos o vento, gostarmos de nós, dormirmos agarradinhos ao nosso amor, vivermos o melhor que consigamos. Isso é cumprir a nossa parte. O resto cumpre-se depois.

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