domingo, 25 de julho de 2010

AVC

Quando eu tive o AVC (acidente vascular cerebral), apanhei um valente susto, um dos maiores da minha vida. Estava eu uma bela noite, há cerca de 7 anos, a ver televisão, eram onze e tal da noite dum verão tórrido, quando começo a sentir um formigueiro na mão. Não liguei e meti mais uma batata frita na boca e ia mudar de canal…quando o formigueiro se estendeu ao braço, e depois à perna. Demorou uns 30 segundos, talvez. Como eu tinha tido ataques de pânico, pensei que fosse mais um e achei por bem levantar-me e ir até à casa de banho, onde a minha mãe estava a tomar duche. Não me consegui levantar, era como se não tivesse perna. Nem é que a perna não tivesse força, simplesmente era como se ela tivesse “morrido”. O braço também ondulava dum lado para o outro, sem qualquer tipo de controlo. E eu apercebi-me imediatamente o que se estava a passar. Em questão de segundos berrei de tal forma à minha mãe, que quando dei por mim ela estava ao meu lado. “Mãe, estou a ter uma trombose”, disse eu, com a voz sumida. Pedi-lhe um copo de água com açúcar, pois estava quase a perder os sentidos, mas nunca os perdi. Fechei os olhos e aguentei. Quando os abri estava completamente zonza e tonta. A minha mãe chamou um médico amigo, que em 3, 4 minutos se pôs cá em casa. Obrigou-me a levantar, ajudando-me, mas eu não tinha força nenhuma na perna e estava completamente tonta. Deu-me um calmante e levou-me para a cama, onde me mandou repousar. Eu só perguntava o que é que me estava a acontecer, aflita. Ele disse-me que devia ser uma questão nervosa, mas que dormisse e no dia seguinte tomaríamos providências. Eu dizia que não, que os ataques de pânico nunca me tinham feito aquilo, que não podia ser. Ele teimava que sim. Eu que não. Só nesse momento chorei.
Efectivamente adormeci e no outro dia já tinha recuperado os movimentos, menos os da perna, ainda coxeava e arrastava a perna. Seguiu-se uma tac, uma ressonância magnética e o veredicto de que tinha sido realmente um avc. Depois foi interiorizar aquilo tudo. Como uma pessoa com 30 e poucos anos, em segundos pode perder a vida assim, do nada. Como haviam no hospital em Coimbra tantas pessoas mais novas do que eu com o mesmo problema, mesmo desportistas e adolescentes. Foi agradecer a Deus por estar viva, por poder ver a minha mãe, por não ter ficado com sequelas, porque a perna depressa se pôs boa, com algumas sessões de fisioterapia. Foi agradecer poder falar, comer, rir, andar, ficar igual ao que era. Igual não, que igual nunca se fica. Fiquei diferente, mais bem disposta, com mais vontade de aproveitar cada segundo de vida. Aquelas coisas que não têm importância nenhuma e que nos chateiam profundamente, esqueci-as. Não me chateio muito com o que não é absolutamente importante. Valorizo imenso as coisas positivas, mesmo que sejam mínimas. Fiquei mais “leve”, mais sorridente, mais disposta a viver, sem medos. Aprendi coisas muito importantes às quais não dava valor nenhum. Passados alguns meses, deixei de ter medo de estar sózinha e de me voltar a acontecer aquilo. Os ataques de pânico acabaram. Parei de chorar no ombro da minha mãe. Tornei-me mais livre e mais feliz. Mais forte, para o bom e para o mau.

Sem comentários: