segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Mínimos

Imaginemos um trabalhador exemplar, numa empresa de sucesso, com lucros altos. Esse trabalhador, por ser extremamente competente, perspicaz, por ter conhecimentos acima da média e ser muito profissional, é promovido. Mas é-lhe logo dito que as responsabilidades vão aumentar, como seria de esperar, mas o ordenado não, vai ser aumentado normalmente, o mínimo anual, como sempre. Daí a 1 ano, se ele provar que é competente para o cargo, fica efectivo e daí a 2 anos então receberá o aumento correspondente ao cargo que está a ocupar. Ora, então porque é que o promovem? Não será porque já lhe reconhecem o mérito, a capacidade de trabalho? Que tem ele para provar mais, se praticamente já realiza as funções para o qual vai ser promovido? Não seria mais sensato e justo ao ser promovido (pelas capacidades já demonstradas), ficar logo efectivo e receber conforme o trabalho realizado? E, porque é, quando questionado sobre alguém da sua equipa, lhe dizem que esse alguém não convém, porque é demasiado ambicioso. Será que ter ambição não é uma qualidade?
Não neste país. Este é o país dos mínimos. Dos ordenados mínimos que mais mínimos não podem ser. Do mínimo de hospitais, com o mínimo de médicos, de centros de saúde, de escolas, tudo com o mínimo de condições. Do mínimo de criatividade e competência, porque são esses apenas que interessam, pois ganham o mínimo que lhes querem pagar. Do mínimo que recebem os deficientes, ultrajados e tratados como lixo. Do mínimo de ambição, de amor próprio. Do mínimo de infraestruturas, de empresas, de trabalho. Do mínimo número de pessoas que vota, que reclama os seus direitos, que tem opinião. Do mínimo dos mínimos, em tudo. Porque quem quer ser recompensado e reconhecido como merece, vai para o estrangeiro e brilha, porque quando somos bons, somos mesmo muito bons, mas nem piores nem melhores que os outros, somos iguais.  Este é o país, que passados quase 40 anos, ainda tem o pensamento salazarista, do sermos pequeninos, pobrezinhos, uns míminozinhos e isso bastar para sermos felizes. Mas não basta e depois todos se queixam, falam falam, mas não passa disso. Somos o país  de gente que ganha balúrdios (invariavelmente, sem mérito), mas declara o mínimo no IRS, no colégio das crianças, paga o mínimo à mulher-a-dias, quer mostrar que tem a vida quase nos mínimos. E é este, no mínimo, o país que somos.

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